O xadrez da economia global traz mudanças complexas e interessantes.
De um lado, há a recuperação da economia dos Estados Unidos e da União Europeia e dúvidas ainda em relação à China. Significa uma boa perspectiva de recuperação do comércio mundial e, com ele, das exportações brasileiras de manufaturados, manutenção das cotações de commodities e algum alívio na balança comercial.
Por outro lado, há um realinhamento global das moedas, em vista das expectativas em relação ao fim dos estímulos monetários do FED (Federal Reserve, o Banco Central dos EUA).
Esse ajuste provoca ampla volatilidade no mercado de câmbio e de taxas, típica de períodos de transição. Nesses períodos, há um efeito manada não homogêneo afetando as economias emergentes. Não há clareza nem sobre o tamanho da fuga nem sobre as necessidades de financiamento dos países. Essas duas informações são essenciais para se prever 1) o novo nível de câmbio das moedas nacionais; 2) o nível interno de taxa de juros dos países afetados.
Sem esses parâmetros, o mercado internacional ensaia uma caça à raposa.
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No caso brasileiro, o jogo fica um tanto mais complexo.
O país necessita, de fato, de um realinhamento do real para estancar o aumento do déficit externo e garantir um mínimo de vitalidade para a indústria nacional.
Mas esse realinhamento traz impactos inflacionários. Para combater esses efeitos, o Banco Central mantém a velha política de aumento da taxa Selic. O mecanismo de transmissão da Selic sobre os preços é o câmbio: aumentando os juros, teoricamente atraem-se mais dólares, o real se valoriza e, com o dólar mais fraco, há menor pressão sobre os preços.
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Os problemas brasileiros advém desse acúmulo de prioridades conflitantes.
Aumentando a taxa Selic, há três movimentos na economia:
1. O real se desvaloriza menos, reduzindo a pressão sobre os preços.
2. A economia cresce menos do que cresceria com um real mais desvalorizado, em função dos efeitos sobre as exportações e importações (real mais forte significa mais importações e menos exportações).
3. Aumenta a necessidade de superávit primário (receita menos despesas operacionais) pa ra pagar o aumento de juros. Para este ano, a meta do governo é um superávit de 1,9% do PIB. As agências de risco estimam a necessidade de um superávit superior a 3% para manter a mesma relação dívida bruta/PIB.
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Caso a dinâmica da dívida pública não seja contida, há o risco concreto de rebaixamento do país no rating das agências de risco. O resultado será uma saída mais brusca de dólares, com a consequente desvalorização do real – e seus impactos sobre a inflação.
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Trata-se de um xadrez que exige monitoramento fino das condições do paciente. Mas nada que sugira o cataclismo prenunciado por algumas manchetes terroristas.
Há um bom estoque de reservas cambiais, um nível moderado de endividamento na economia, empresas brasileiras se preparando para eventuais mudanças cambiais.
A incógnita é o fator eleições e até que ponto haverá terrorismo econômico com propósitos eleitorais. Aí se entrará em um campo difícil de avaliar: o estado de espírito dos agentes econômicos.
Por Luis Nassif
Fonte: Carta Capital